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  • Foto do escritorRevista Alagoana

A União dos artistas

Atualizado: 22 de mai.

por Anna Sales





130 anos atrás, nascia Jorge de Lima. Ele foi poeta, romancista, pintor, político, médico, biógrafo, ensaísta e tradutor, e é natural da cidade de União dos Palmares. Com tantas qualidades reconhecidas, não se esperava menos do local onde ele nasceu. União é uma terra rica de história, memória e artistas e a comprovação disso se deu justamente com a realização do 1° Coletivo de Artes Plásticas Palmarinas, acontecido durante uma semana em abril, na Casa Jorge de Lima, em comemoração aos 130 anos do poeta.


Jhonyson Nobre, artista visual palmarino, idealizou juntamente da Secretaria de Cultura da cidade a primeira edição desse evento, que contou com a participação dos artistas: Diego Sarmento, Dinho, Mateus Lopes, Adilson Silva, Felipe de França, Jhonyson Nobre, Donald Robert, Alana Carvalho, Leandro Vital e Alisson Guimarães.


Jhonyson conta que quando começou na arte, sentia muita falta de compartilhar os processos com os artistas da terra, porém não conhecia ninguém do meio na cidade ainda. Por isso, surgiu a ideia da exposição. Ele conta que para descobrir os artistas que existiam por lá, foi utilizado o tradicional boca-a-boca. Mas uma das questões que se depararam foi a "ausência" de mulheres artistas e ele coloca essa "ausência" entre aspas mesmo, pois acredita que é importante ir divulgando, construindo esse lugar de possibilidade, para que haja ainda mais diversidade em outras exposições que forem acontecendo na cidade.


“O aniversário do Príncipe dos Poetas Alagoanos faz parte do nosso plano de ação anual. Este ano, tivemos um olhar diferenciado, buscando expor as artes que o Jorge Lima desenvolvia. Realizamos além da exposição com os artistas daqui, um sarau literário, oficina de desenho e pintura, exposição de livros e performances. O evento foi além do esperado, as ações de início seriam desenvolvidas durante as noites, mas as escolas e visitantes começaram a fazer agendamento, então resolvemos abrir a Casa de Jorge de Lima nos três horários”, conta Elizabete Oliveira, secretária de Cultura de União dos Palmares.


“Expor em União sempre é uma experiência maravilhosa. Lembro da minha versão criança que amava esses espaços mas não tinha tanto acesso. Poder, hoje, contribuir para construir lugares assim, revivendo um espaço tão importante como a Casa-museu Jorge de Lima, vendo crianças ocupando esses espaços, pessoas que nunca tiveram acesso à arte nesse suporte, me deixa com brilho nos olhos. Espero que a cidade desperte ainda mais para arte, que os palmarinos com essa veia artística latente vejam na cidade como lugar para prosperar, para ter um bom início, pois é um lugar rico em referências. Quem sabe em um futuro próximo, possamos criar um circuito de arte referência no Brasil. Acredito demais na potência da minha terra natal.”, reforça Jhonyson.





Conheça alguns artistas da exposição


Alana Carvalho


“A arte me trouxe um sentimento inexplicável, onde eu conseguia me sentir feliz, mesmo diante de tudo que estava acontecendo”. Foi assim que Alana Carvalho descreve o início do seu trabalho com a pintura, que começou na pandemia. Através da pintura das paisagens, ela sente a paz da conexão com a natureza. E, como ama pintar paisagens, a obra que fez para a exposição foi o parque Quilombo dos Palmares, que representa um dos grandes símbolos de resistência. Ao pintar a tela, ela diz que conseguiu sentir a magnitude desse lugar e dessa história tão importante, que tem orgulho de fazer parte.


Alana conta que acreditava que ainda demoraria para conseguir fazer parte de uma exposição, mas agora, esse sonho foi realizado. Questionada por ser a única mulher participante, ela conta:


"Na organização tinha mais, porém muitas desistiram. E isso é muito triste, ao mesmo tempo é muito importante, porque eu sinto que irei influenciar, inspirar outras mulheres a se arriscarem. E como eu também sou uma influencer digital, sempre estou postando minhas artes, e várias meninas já me falaram que inspiro muito elas e isso me deixa muito feliz. Sendo assim, sinto que já realizei o meu propósito em mostrar as minhas artes. Aqui em União, não vejo meninas fazendo pinturas, desenhos, mas vejo várias querendo se arriscar, porém ficam com medo. Então, eu quero muito ver várias outras artistas, ninguém começa fazendo obras perfeitas, tudo é um processo, é só não desistir. Espero que com a minha representatividade na exposição, outras mulheres se sintam acolhidas em confiar em si mesmas e colocar na tela toda sua arte.”





Mateus Lopes


Mateus teve um forte incentivo da família a partir do momento que começou a desenhar, em 2013, em especial do falecido padrinho Nivaldo Abílio, que um dia pediu para ver o que ele estava desenhando em um computador. Ele ficou impressionado e pediu que o artista não parasse. “Daí em diante produzi bastante desenhos, fui desenvolvendo minha técnica sem fazer nenhum curso profissionalizante, apenas visualizando e experimentando novas formas de produzir detalhes nos desenhos.”, conta.


As primeiras obras foram em tela de tecido, desenhava monumentos de todo o mundo com lápis grafite e todos os 51 quadros ainda estão em seu quarto. Depois, ele foi desenvolvendo o lado arquitetônico com grafite, passando a desenhar projetos, cidades, prédios e fachadas em papel. Contudo, só se reconheceu e foi reconhecido como artista plástico em 2017, quando passou a estudar na Escola Estadual Rocha Cavalcante. Ao participar na categoria de artes plásticas do 2°, 3° e 4° encontros estudantis de Alagoas, no último que aconteceu em 2019, apresentou uma de suas maiores obras, uma instalação que lhe abriu para outras formas de produzir.


“Os quadros que foram expostos no evento são uma representação da minha evolução produtiva. A primeira e principal obra da semana foi feita em 2021, tem 120cm×170cm e foi uma das maiores que já fiz, foi toda produzida com lápis de grafite de várias espessuras diferentes, cotonetes e algodão. O desenho apresenta os principais pontos históricos da cidade de União dos Palmares (a maioria deles não existe mais), o intuito era apresentar ao visualizador uma ladeira que mostrasse o quão Bela e Rica foi a cidade de União dos Palmares, arquitetonicamente falando, instigar as pessoas a procurarem onde ficava cada construção, brincar com as escalas das construções e educar os mais novos sobre o que a cidade já foi e como ela deveria estar. O nome da obra é "Ladeira de União que Já Foi". O segundo quadro é uma pintura de 40cm×40cm, que foi feita em 2020 sem um propósito específico. O nome da obra é "Negra Espera Brasil" e representa uma mulher que pode ser uma ex escrava, uma deusa, ou simplesmente uma mulher brasileira que planta novos brasis há muito tempo, ela está sentada em uma cadeira velha, segura na mão direita a bandeira do Brasil, com a mão esquerda segura o peso da sua cabeça e o seu cansaço, no seu colo está uma faca, e parte do seu vestido está sujo do sangue que escorre do seu coração e rega as plantações extensivas de tocos de paus-Brasil que foram mortos por não darem certo. A negra planta um pau-brasil na sua frente e espera que esse conteúdo acabe florindo e dê certo, mas ninguém garante se ela já não mudou de lugar enquanto o telespectador não observava e mudou novamente a muda para não deixar ela morrer e ser consumida pelo fogo.”, explica Mateus.







Felipe de França


“Minhas obras abordam o subjetivo realista, o “eu” prestes a inundar o mundo, ainda contido. Isso pode ser interpretado como uma busca por representar a força e a intensidade da subjetividade, que muitas vezes fica contida e reprimida nas interações sociais e culturais, gosto de pinceladas fortes em contraposição a sutileza dos olhos, muita das vezes as obras estão ancoradas a poemas, que ajudam a entender o que quero passar, outras são sobre temas como a que está na exposição, ela foi construída a partir da frenesi dos dançadores de folguedos regionais como o guerreiro.”, comenta.


Quando recebi a oportunidade de expor, Felipe conta que não pode ficar mais grato, pois trouxe essa temática dos folguedos e dessa representatividade regional na semana comemorativa do Jorge de Lima.





Donald Robert


“Bonequinhas de papel”. É assim que Donald define seu trabalho. Ele conta que desenha desde muito novo, mas começou a se esforçar mais quando começou a participar de competições de “paper drag” no Facebook, desenvolvendo seu estilo de arte, e continua competindo até hoje. Ele conta que nas competições de desenho que participa, é importante realizar a maioria dos desafios com a mesma “personagem” e alguns artistas do nicho lhe inspiraram muito na época, ao mesmo tempo que mangás e HQs são grande referências, ele tentou juntar tudo isso para criar um traço mais sólido, que foi se aperfeiçoando e mudando com o passar dos anos.


“Quando surgiu o convite para a exposição, eu não tinha muita noção de como seria e nem da importância do evento, meu tipo de arte geralmente não está presente em exposições, então apesar de ser na Casa do Poeta Jorge de Lima, achei que seria algo mais simples. Foi um momento especial pra mim e a primeira vez que expus minha arte dessa forma. Não consegui evitar de comparar, eu fiquei inseguro e senti que não pertencia àquele lugar, mas sei que minha arte tem um ponto de vista e sou tão artista quanto qualquer um.”, finaliza.





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