Revista Alagoana
Roniel e o Caerr: Orgulho LGBTQIA+ com luta e espaço de acolhimento em AL
Texto de Bertrand Morais
Não por acaso o Centro de Acolhimento Ezequias Rocha Rego ou apenas Caerr está ao lado da Associação Zumbi dos Palmares. Ambos os nomes mencionados foram figuras de resistência no estado de Alagoas e vítimas da violência que ainda mata corpos pretos e/ou LGBTQIA+ desse País. A diferença é que o segundo nome por mais que haja tentativa de apagamento, você já deve ter ouvido falar, ao contrário do primeiro.
Daí surge em janeiro de 2021 o Caerr – o primeiro centro de acolhimento da comunidade LGBTQIA+ de AL – dando continuidade ao legado construído por Ezequias nos anos 90 sob forte repressão. Os tempos são outros e, apesar de conquistas como a retirada da transexualidade da lista de doenças mentais, a luta é a mesma de outrora: pelo direito de existir (e nos dias atuais) numa pandemia, entre outros sérios desafios.
A Revista Alagoana traz o perfil do militante e voluntário do Caerr AL, Roniel Rodrigues.

Desço num terminal de ônibus da Parte Alta de Maceió. Alguns minutos depois, meu entrevistado acompanhado de um grande amigo nosso vem buscar-me para irmos ao local da minha visita. Onde eu estou é o conjunto Rosane Collor, situado em um dos maiores e mais populosos bairros da capital: Clima Bom. Por sinal, o clima estava ótimo naquela manhã – bastante ensolarado e de pouco calor – perfeito para conhecer lugares pela primeira vez.
Roniel Rodrigues, com quem marquei entrevista, além de voluntário do Caerr, é um jovem gay afeminado, magro, de altura mediana e fortes traços indígenas. Ele também usa uma máscara estampada com as cores da bandeira LGBTQIA+ em seu rosto. No caminho, ele me informa que a ‘casa’ está movimentada naquele dia.
Ao chegarmos, o que senti foi acolhimento numa aparente residência qualquer por fora, mas por dentro, muita representatividade com bandeira do Orgulho na parede e um lindo quadro de uma mulher negra em outra. Fica visível que ali todas, todos e todes são muito bem-vind@s. A diversidade mora ali.
Após cumprimentos com quem encontrava no trajeto de apresentação dos cômodos daquele imóvel com sala, antessala, sala de janta, consultório, cozinha, quintal, banheiro e dois quartos com camas para os acolhidos – tudo pequeno e com móveis básicos – logo os desejos para todo aquele espaço são expostos para mim. Entre os anseios, a ocupação de todo pavimento do primeiro andar, onde ficam os quartos, para ampliação da ‘casa’, além de uma intervenção artística na escadaria que nos leva a este.
Por conta da proximidade com a hora do almoço, o cheiro do peixe fritando no fogão aguçava a fome de alguns e o preparo de outros. Roniel desabafara que não levava jeito algum na cozinha, mas havia comprado alguns itens alimentares para a ‘casa’ já que esta sobrevive de doações e serviços voluntários, os quais ele também os presta ocupando o cargo de 1° Suplente do Conselho de Ética e Coordenador de Equipe Gay.

“Lute como LGBTQ+” era a frase estampada na camisa de Roniel, hoje com 19 anos, mas na militância gay desde os 14. Perdeu sua mãe aos sete anos, mas jamais deixou de acreditar na força da educação inclusiva através do diálogo democrático.
Com boa habilidade na oratória e por vezes de forma acelerada, ele conta que passou por inúmeras dificuldades, ainda corriqueiras da comunidade LGBTQIA+, porém terminar o ensino médio e mais recentemente ser aprovado no curso de Pedagogia 2021.1/UFAL trata-se de grandes conquistas pessoais e sociais para ele.
Ser LGBTQIA+ no Brasil, e especialmente em Alagoas, pode ser ainda bastante perigoso. O estado alagoano já contabilizou nove assassinatos por homotransfobia até o fechamento dessa matéria, segundo o Grupo Gay de Alagoas. Uma média de 1,5 mortes violentas para cada dos seis primeiros meses do ano. Em meio a tanta tragédia, o Caerr vai à contramão, aliás, numa mão que deveria ser de sentido único na estrada da vida: o amor e acolhimento ao próximo.
Ainda tive o prazer de conversar um pouco com o atual Presidente do Grupo Gay de Alagoas, Nildo Correia, que também estava no ‘centro’ e comentou o desejo de estruturar primeiro a ‘casa’ onde estávamos para, assim, expandir outros pontos de apoio pelo estado.
Assim, pude notar que, em tempos tão adversos, Alagoas pode respirar finalmente mais aliviada ao comemorar o primeiro ano do Orgulho com acolhimento em AL, concretizado com o Caerr, e tudo isso em meio a uma sociedade ainda tão opressora.

E para nós, que não fomos expulsos de casa por sermos quem nós somos e/ou não precisamos assumir aquilo que não fizemos de errado, como ter nossa orientação sexual, seja hétero ou LGBTQIA+, podemos usar do nosso privilégio para ajudar o Caerr Alagoas com algumas das formas abaixo:
- Fazendo doações de alimentos, produtos de limpeza, livros ou quaisquer outros utensílios de manutenção física, intelectual e/ou social;
- Participando do recrutamento de voluntári@s do Caerr nas mais diversas áreas como cultural, da saúde, administrativo, entre outras;
- Comprando uma rifa solidária no valor de R$ 10,00;
- Contribuindo com a Vakinha mensal da ‘casa’;
- Empregando pessoas trans em seus negócios;
- Estudando acerca do movimento LGBTQIA+ e não perpetuando ações discriminatórias à comunidade de forma geral.
Mais informações: (82) 98158-3098 / @caerr_alagoas / caerr.alagoas@gmail.com